Nada é pra sempre mas algumas coisas são dentro de nós.

 4 anos após a última postagem, me encontro em um momento em que aquela ultima postagem faz sentido. Lembro daquele sentimento e do porquê dele... mas não foi por esse motivo que quis voltar aqui. Meus sentimentos explodiram e eu não consegui dormi, de madrugada sempre gostei de escrever, dessa vez é mais uma delas.

Recebi a notícia hoje que um lugar que fez parte da minha vida se desfez, o dono faleceu. Eu vivi nesse lugar 3 anos da minha vida, intensos anos. O primeiro em 2006, depois retornei em 2010 se não me engano, mas 2011 eu estava lá. No primeiro ano, eu tinha 14 anos, uma menina muito vaidosa ( que não sabia, mas era tão vaidosa de maneira extrema por causa de traumas que havia vivido), ela se achava feia e não entendia quando, muitas vezes, alguém a achava bonita. Essa menina tinha uma coisa da qual eu sorrio sempre que lembro: Ela tinha paixão.

Ela sempre foi apaixonada por algo e esse algo a preenchia. Nesse ano ela ( eu) escreveu um diário, que eu tenho até hoje. Já me desfiz de tantas coisas, mas essa, eu quis guardar. Escrevia todos os dias, tenho aquele ano todo anotado, tudo q vivi ali. Algumas vezes reli e parece que posso voltar no tempo. Fiz uma amizade que vou levar pra sempre ♥️ e momentos que jamais esquecerei.

Logo que esse ano passou, eu vivi muitas coisas, descobertas, momentos difíceis, tristes, de desesperança, incredulidade... nesse tempo escrevi bastante aqui no blog. Depois que essa onda passou, eu retornei a esse lugar tão importante pra mim, mais velha, porém ainda imatura, foi quando também vivi muitos momentos bons, fiz amigos, desacreditei em mim mesmo sendo encorajada apesar de cobrada, sinto que fiz algumas escolhas erradas também mas tudo fez sentido de alguma forma precisava acontecer, embora eu saiba que sou responsável por todas as minhas escolhas. 

Eu estava nesse lugar me preparando pra realizar um sonho de infância, mas meu emocional estava totalmente comprometido. Eu não sabia a gravidade da situação que mesmo tendo dado diversos indícios durante minha vida, eu só fui descobrir em 2018 e não cheguei a citar essa questão por aqui.

Dois mestres que tive nesse local, não estão mais entre nós, um deles, além do aprendizado, me fez rir várias vezes e também me ensinou a importância da família. Eu o encontrei uma vez em um centro espírita chamado Leon Denis, bem conhecido na cidade que nasci. Lá é um lugar de muita paz e aprendizado, onde sempre me senti muito bem. Acho que foi a última vez que nos vimos nesse plano, sempre que penso nele, me vem a imagem dele descendo as escadas com uma roupa branca, não tenho certeza de que ele vestia vestes brancas, mas é assim que lembro. O outro mestre, me ensinou a coragem de permitir que o amor e dedicação mova nossas escolhas, que no silêncio podemos aprender muito, que pensamos que não sabemos mas na verdade sabemos, que temos capacidade de aprender, que não precisamos de tanto, que servir é melhor do que ser servido, que um grande polinômio pode dar 0, como pode dar um 1. Que sua matéria favorita pode ser LINDA e que podemos chorar e que devemos chorar, colocar pra fora aquilo que nos entristece... que amigos vão nos acolher, que nem sempre alguém que deveria nos ensinar será capaz disso. Lembro como se fosse hoje, num sábado à tarde, eu saí de casa e fui até a casa dele para aprender matemática e saí de lá com uma lição que jamais vou esquecer. Ele me disse passando a mão nos meus cabelos como um gesto de carinho: Filha, chora, pode chorar. Coloca pra fora o que você está sentindo. Ele ainda é uma criança ( no auge dos seus aproximadamente 66 anos, ele pouco sabia do que teve oportunidade de aprender). Nunca mais eu me esqueci desse dia, pois eu nunca tinha visto uma demonstração de carinho tão expressiva do mestre para com algum de seus alunos. Sou e serei eternamente grata por tudo que me ensinou. Sou e serei eternamente admiradora de sua inteligência ( fora do comum) e de sua coragem, de sua dedicação e abdicação. Eu o perguntava como ele podia ser tão inteligente. Ele me dizia que fazia aquilo há anos, e que se eu fizesse, também saberia... no mês passado, um colega de profissão dele, disse pra mim que ele dizia: Ela sabe a matéria, mas chega na prova e não consegue.. eu recordo também das vezes que ia ouvindo Maria gadu no caminho para a casa dele, quase sempre atrasada, num celular antigo que eu tinha. 

Vivi momentos, fiz amizades que me levaram a outras pessoas que se tornaram imensamente importantes na minha vida. Passei manhãs, tardes e noites estudando com amigos, vi os sonhos deles se realizarem, algumas vezes bem distintamente do que eles imaginaram assim como o meu, mas o que ficou dentro de mim foi a lembrança da força de vontade de cada um, a inspiração de que mesmo tão novos, como éramos, buscávamos um sonho. Nada pode deter a inexorável marcha do tempo... não pode.

Eu consegui realizar meu sonho, de uma maneira bem diferente do que imaginei, mas foi quando eu me desprendi de algumas amarras psicológicas, a pressão diminuiu um pouco até eu chegar em uma das etapas do processo... o último teste. Não passei de primeira, se não me engano, eu tinha uma  semana, ou duas para o novo teste que era mental principalmente. Não acreditava em mim,  apesar de estar me esforçando demais, me machuquei mas continuei apesar das dores. Assim que não passei de primeira, voltei chorando pela janela do ônibus e desci perto da casa do mestre, na esquina da rua que eu fiz meu primeiro preparatório com 10 anos. Quando cheguei a casa, estava sozinha e chorei um pouco mais, a noite meu namorado conseguiu uma dispensa e eu já estava pulando na rua treinando o pulo. Ele me acalmou e me encorajou, como sempre e voltou antes das 5 da manhã. Passei no segundo teste, incrédula... mas naquele momento de alguma forma, eu sabia que deveria acreditar em mim.

Entrei finalmente na escola, acreditando parcialmente em mim. Desafios novos viriam, eu havia colocado um bloqueio mental em qualquer sentimento que eu pudesse vir a ter, mas a exacerbação de sensações nos impossibilita de não sentirmos nada. Quando eu abria meu armário e olhava para as fotos, sentia muita saudade, nessa época eu não tinha WhatsApp, a comunicação era via telefone por ligação que muitas vezes não pegava e por SMS. Todos os dias eu falava com uma só pessoa, mas também sentia falta de falar com outras também importantes. Chegou um momento em que eu não vi sentido em estar ali, pensei e repensei se realmente eu queria viver aquilo, mesmo eu tendo sonhado com todo meu coração, me dedicado, abdicado de tantas coisas para seguir o amor que me movia. Decidi sair com uma certeza igual ou maior do que a que eu possuía no dia que entrei. Lembro que quando cheguei, ainda tinha os mesmos comportamentos de quando estava lá dentro e pelo tempo que faltava para a turma se formar, eu sonhava constantemente que estava lá dentro, de maneira muito real, sentia medo na maioria das vezes. 

Medo. Essa palavra, esse sentimento. Jamais eu imaginaria o que ele, presente desde sempre, teria provocado em toda minha formação emocional, psicológica, intelectual, física... ele não parecia tão enraizado como eu o descobri posteriormente, mas vou deixar esse assunto para um próximo post.

Bom, acho que me coração está mais calmo, menos apertado com as lembranças. Se eu tivesse que descrever cada momento, cada pessoa, principalmente cada vez que eu sorri dentro desse local que se desfez como instituição, ficaria aqui por muitos e muitos posts... ao olhar para trás, hoje com muito mais autoconhecimento, percebo a importância do que vivi, o que cada situação me ensinou, que o tempo era necessário e grande parte do que vivi eu escolheria viver de novo, até mesmo as angústias pois sem elas, dificilmente eu teria aprendido tanto e finalmente olhado para dentro de mim sem a capa pois apesar de sempre sentir e escrever sobre meus sentimentos, eu nunca havia me perguntado o porquê deles.

Com amor e já com sono, Fê. 

Eu volto. 


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